O Agente da U.N.C.L.E.Hollywood está sempre buscando inspiração em outras fontes para produzir seus filmes. E a televisão já colaborou com muita matéria-prima – Anjos da Lei e Missão: Impossível, inclusive, dão alegria (e dólares) aos produtores até hoje. Mas, nem sempre o resultado dá certo, e de vez em quando somos presenteados com besteiras como Os Gatões – Uma Nova Balada (2005) e Besouro Verde (de 2011). O Agente da U.N.C.L.E., mais nova aposta dos produtores Hollywoodianos, representa um meio-termo entre esses grupos.

A trama do filme se passa nos anos 60 (em plena Guerra Fria) e acompanha dois espiões: um norte-americano (vivido pelo britânico Henry Cavill, o atual Superman) e um russo (interpretado pelo estadunidense Armie Hammer, de O Cavaleiro Solitário) que são obrigados por seus respectivos governos a trabalharem juntos a fim de desbaratarem uma organização criminosa internacional.

A grande sacada do roteiro escrito pelo próprio diretor Guy Ritchie em parceria com Lionel Wigram (que também trabalharam juntos nos dois últimos Sherlock Holmes) é usar o humor para retratar a rivalidade entre EUA e Rússia, responsável pelos melhores momentos do filme, como aquele que envolve uma sala repleta de espiões de ambas as nações.

Mas se a dupla acerta em cheio no humor, o mesmo não pode ser dito das seqüências de ação que, embora bem dirigidas, não apresentam a mesma inventividade dos trabalhos anteriores de Ritchie (uma sequência, aliás, chega a lembrar Sherlock Holmes), se saindo um pouco melhor na cena de perseguição que acontece durante o primeiro ato. E se essa cena, em questão, funciona, o montador James Herbert (parceiro habitual de Ritchie) também deve ter seu trabalho elogiado.

Outro que merece créditos é o compositor Daniel Pemberton, que consegue criar uma trilha sonora bastante descontraída e envolvente enquanto aproveita o tema clássico da série original.

O Agente da U.N.C.L.E. ++

Já o elenco principal, mesmo incorporando bem a veia satírica do roteiro, carece de química. A dupla principal até se esforça, mas a falta daquele “algo mais” em cena acaba comprometendo parte do resultado final. Henry Cavill, que adota um tom de voz divertidamente pedante, se desdobra em cena para não ser ofuscado, mas seu Napoleon Solo é prejudicado pelo roteiro, que dá mais foco ao Kuryakin de Armie Hammer, lhe reservando até mesmo um interesse amoroso.

Com isso, Hammer acaba sendo o destaque do filme, exibindo um sotaque russo convincente e aproveitando as chances que tem para desenvolver o personagem, sendo particularmente eficaz ao retratar toda a raiva contida de seu agente soviético, como ao exibir um tique sempre que está prestes a se entregar a arroubos de fúria. E se Alicia Vikander (que junto da Rebecca Ferguson de Missão: Impossível, parece indicar uma invasão sueca a Hollywood) é limitada a uma personagem unidimensional, Hugh Grant e Jared Harris fazem pouco mais do que uma ponta, o que é uma pena.

Sendo assim, O Agente da U.N.C.L.E., embora tecnicamente competente, serve apenas como um passatempo leve e divertido, um filme mediano que consegue se distanciar tanto de besteiras como Besouro Verde e Os Gatões, como de ótimos exemplares como Missão: Impossível e Anjos da Lei.

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Crítico de Cinema e Carioca. Apaixonado pela Sétima Arte, mas também aprecia uma boa música, faz maratona de séries, devora livros, e acompanha futebol. Meryl Streep e Arroz são paixões à parte...

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