Falando curto e grosso sobre ‘O bom dinossauro’

Uma ideia interessante (apesar de não original) rendeu um novo filme da Pixar: como seria a Terra se um meteoro, 65 milhões de anos atrás, não tivesse atingido o planeta? Resposta: mesmo com o surgimento da espécie humana, os dinossauros ainda dominariam. Na verdade, eles seriam as criaturas mais inteligentes, inclusive já com o desenvolvimento da linguagem – enquanto o homem apenas uivava, mais parecendo um cachorro agressivo. Assim, O bom dinossauro mostra um pouco de como seria o planeta água se os répteis gigantes ainda estivessem entre nós.

Achei esse título um pouco problemático – o que não é culpa da tradução, já que The good dinosaur (título original) significa a mesma coisa. O que faz de um dinossauro “bom” ou “ruim”, afinal? Sua capacidade de assustar com seu tamanho descomunal e dentes assustadoramente grandes? Suas virtudes? E por que levantar essa questão com o título, quando isso não tem nada a ver com o enredo?

Uma família de apatossauros agricultores possui uma pequena fazenda, mas um dos filhotes, Arlo, é fonte de constante preocupação para os pais. Ele não consegue realizar as tarefas mais básicas porque tudo o aterroriza – até mesmo as galinhas. Arlo assiste seus irmãos Buck e Libby cada vez mais assumirem as funções difíceis do plantio, ganhando o respeito e a admiração dos pais por administrarem bem a fazenda, enquanto ele se sente incapaz. A morte do pai coloca mais pressão na família, pois todos deverão trabalhar dobrado para cobrir suas funções e conseguir armazenar uma quantidade de alimentos que seja suficiente para mantê-los durante o inverno.

Tentando perseguir Spot, o humano que tem invadido a propriedade e comido todo o milho guardado no silo da família, Arlo cai no rio próximo à fazenda e é levado correnteza abaixo. Acorda sem a menor noção de onde se encontra, sabendo apenas que deve seguir o rio se quiser voltar para casa.

A viagem de Arlo (título em Portugal) talvez seja um nome mais apto para essa animação, pois o ponto principal da trama é a jornada percorrida pelo pequeno dinossauro para voltar para casa. Arlo é obrigado a enfrentar e superar as adversidades da jornada, descobrindo que é impossível não sentir medo, mas não se deve deixar que o sentimento o paralise.

Com a ajuda de Spot, Arlo enfrenta tempestades, dinossauros agressivos e, mais importante, descobre a própria capacidade e resiliência ao voltar para o lar. A odisseia é parte da aventura diária dos vivos, pois todos os dias temos uma jornada à frente a qual devemos superar. A maior de todas, possivelmente, é o amadurecimento pessoal, e é isso o que Arlo encontra. Ao chegar à fazenda, ele parece maior, e sua mãe o confunde à distância com o falecido pai. Essa é a evidência física do quanto ele evoluiu, desde o dia em que sai de casa até seu retorno. Crescer é a maior jornada de todas.

Há quem diga que não está no mesmo patamar de outros filmes da Pixar, possivelmente por ser mais emotivo e apelar menos no quesito complexidade narrativa, mas isso não significa que não foi muito bem elaborado e produzido. Com certeza vale a ida ao cinema.