No último domingo estava eu tentando assistir algo na televisão, e meu marido acabou parando numa reportagem sobre um leão chamado Ariel, de dois anos de idade, que está sofrendo de uma degeneração neuronal, e por isso não move as quatro patas. Obviamente, como todo bom programa sensacionalista, o apresentador demorou quarenta minutos só para dizer o que o animal tinha.

Eu já havia adivinhado em menos de cinco minutos de reportagem. Seguiu-se uma lengalenga emocional sobre o pobre leãozinho, da veterinária que está tratando dele sem cobrar nada (só a fama que ela terá é um bom pagamento), e a dona do “bichano”, dizendo que tudo o que ela pede para os internautas logo lhe chega as mãos: fraldas, colchõezinhos para não ter escaras, antibióticos, tapetinhos para fazer pipi…Que ela não tem coragem de sacrificá-lo, pois ele está lutando para viver, que ele é o filhinho dela.

Acho que meu coração está ficando duro. Lembrei de imediato do ditado antigo: “quem não pode, não se estabelece”. Se ela, com aquele cabelo bem cortado e roupinhas “maneiras”, como diz minha filha, não pode pagar pelos custos do animal, porque quis tê-lo em casa? Estava eu pensando nisto, quando o apresentador começou a explicar quantos quilos de carne o animal precisava comer por dia, e outras baboseiras.

Não agüentei. Vejam bem, não tenho nada contra animais, mas achei um absurdo uma reportagem de quase uma hora para o pobre leãozinho…Aliás, antes do leão, a mesma emissora gostava de contar a história do cavalinho que foi queimado. Não que eu não me comova com os pobres animais. Porém gastam horas de programa para não informar nada. Enquanto isto, assuntos sérios são deixados de lado.

Gostaria de ver a mesma emissora indo até um orfanato aqui perto de minha casa, para verificar do que precisam, em especial uma pequena de menos de um ano, com hidrocefalia, que foi abandonada junto com a irmã gêmea saudável, pela mãe, que não tinha condições de criá-las. Será que ela, e outros milhares de crianças, receberiam doações em dinheiro, colchões anti escaras, antibióticos, roupas, e o que mais precisassem, se postassem mensagens de socorro nas redes sociais?

Será que aquele carismático apresentador faria um tour por casas de idosos que vivem praticamente sozinhos, sem cuidados médicos, sem enfermeiras, sem quem cuide de suas escaras, ou troque suas fraldas? Será que ele daria a esta reportagem o mesmo tempo que deu para o urubu de estimação de um sujeito nos cafundós do Judas?

Temos sociedade protetora dos animais, mas não temos sociedade protetora dos humanos. Não venham me falar de Direitos Humanos, pois estes vão olhar aqueles que já não são considerados humanos, devido aos crimes que cometeram. Não sei se eles se debruçam sobre a pobreza, mãe de todas as mazelas e desvios. Temos notícias sensacionalistas, que aumentam o ibope, mas não vemos nada para que estas mesmas notícias desapareçam do ar.

Não há ações efetivas. E o povo, narcotizado pela TV, engole as reportagens que nada acrescentam, sobre leões, urubus, jumentos e cavalinhos, enquanto aqueles que realmente precisariam de ajuda ficam a mercê da sorte, porque,todos nós sabemos que nem o governo e tampouco a sociedade se comovem com os seus iguais. É mais fácil chorar pelo leãozinho…

 

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3 Comments

  1. MaosLindas

    Também vi a tal reportagem e me perguntei o tempo todo, porque Diabos alguém cria um leão em casa…
    Caso eu fale pra você que prefiro cuidar dos humanos do que de animais, estarei sendo hipócrita. Um choro humano não me sensibiliza tanto quanto um choramingar de um animal, que por sua natureza só ataca por defesa e só mata por fome, não por prazer, vingança, honra ou qualquer outra palavra utilizada para justificar tais atos (que não tem justificativa).
    Eu nunca abandonaria meus idosos… estive ao lado da minha avó mesmo em sua situação frágil após 3 derrames, prometi aos meus pais que eles são minha responsabilidade. Quero que Deus reserve a eles a melhor idade com saúde e longevidade próspera, e eu estarei ao lado deles para o que der e vier.

    Realmente a mídia é movida a falar daquilo que chama a atenção da massa…. se colocar crianças famintas e idosos doentes, muitas verão alí, atos que cometem e se sentirão perturbados, e perturbação não dá audiência… dó sim, isso sim.

    Beeeeeijos
    Ara

  2. José Júnior

    Cara, tô amando tudo que você escreve, quando vi esta reportagem tive o mesmo pensamento.
    Absurdo isso, criar leão feito gente, feito filho, quem quiser criar qualquer bicho que crie, não sou contra, neste tempo em que tudo vira alvo de violência qualquer ato de compaixão é bem vindo, mas neste caso o excesso com este leão chega a ser uma agressão ao bom senso!

  3. Sei que a midia é sensacionalista em tudo, mas não vejo nada demais em dedicar um tempo aos animais, afinal são tantos maltratando e poucos pra cuidar e se preocupar com eles. Acho que vc deve ser do tipo que acha que nós seres humanos somos tão superiores aos animais né.
    Tirando as crianças, o resto das pessoas tem voz, pode reclamar, falar e pedir se estiver com fome. Agora com exceção do gato que até se vira bem sozinho, a maioria dos outros animais que vivem próximos aos humanos não podem.
    Acho que vc também está exagerando, porque na época de enchente muita gente doa milhares de roupa, comida, objetos e tudo mais, todo mundo se sensibiliza , principalmente no sul e sudeste do país. Muitas vezes a situação em alguns lugares do nordeste está bem pior e ninguém nem tchum.
    Outra coisa, eu sensibilizo com crianças sendo molestadas e estupradas, por mulheres sendo estupradas. No resto, nem um pouco. Tem gente que sai por ai fazendo não sei quantos filhos, pra que? É vaca parideira é? Gente que tem a mente pequena e não quer crescer, não quer estudar. As muitas pessoas que estam morando na rua não quer sair da rua, alias na rua é mais fácil certo, e muitos são drogados. Recolhe todos e faz eutanásia, né assim que fazem quando recolhem os animais de rua?
    Pra finalizar, os animais são responsabilidades da sociedade, afinal fi o homem que o trouxe para o convívio humano.