“A separação mostra nosso lado pior. A separação mostra realmente quem você é”. Esta frase é dita por um dos personagens de Divórcio e o espectador vai presenciar o grande embate que um divórcio pode ter.
Nas telas do cinema, a partir do dia 22 de setembro, você presenciará o embate de Noeli (Camila Morgado) e Júlio (Murilo Benício) em seu divórcio que, ao invés de provocar lágrimas, provocará risadas no público.
Tudo começa lindamente e romântico com Júlio roubando Noeli do altar, lhe salvando de um homem que ela não ama. Eles se casam e vivem felizes para sempre.
Certo? Não!
Estamos diante de uma comédia romântica e que todo filme, desse gênero, traz os protagonistas sofrendo por algum empecilho.
De um casal humilde, passa a ser o mais rico da cidade de Ribeirão Preto (SP). A fórmula para esta riqueza é o amor, que Noeli coloca numa receita de molho de tomate e na administração da empresa feita por Júlio. Nasce a empresa de molho de tomates Juno (Júlio + Noeli), com direito à esposa como garota propaganda do produto (como um tal elefante, daquela marca conhecida).
E o dinheiro traz felicidade ao casal? A casa que mais parece uma nave, traz felicidade? E o closet lotado de sapatos caríssimos, carros gigantes e luxuosos? Tudo parece preencher o vazio que este casal tem entre eles. A rotina os distancia e uma situação gota d´água os separam.
Para defender o patrimônio e obter a guarda das filhas, cada um tenta achar o melhor advogado para si, iniciando um divórcio que promete enorme confusões.
Divórcio é dirigido por Pedro Amorim (Mato sem cachorro, Superpai) e o roteiro é de Paulo Cursino, conhecido como roteirista de filmes de comédia recheados de piadas e comediantes (“ Até que a sorte nos separe 1 e 2”, “ Pernas para o ar 1 e 2”, “Um suburbano sortudo”), contando, ainda, com a parceria da roteirista Angélica Lopes.
Se você assistiu algum destes filmes, verá que a dupla abusa no roteiro de piadas (algumas sem graça), cria personagens coadjuvantes bem interessantes, engraçados e situações absurdas, que podem provocar risadas em algumas pessoas.
O filme nunca emplaca numa crise de risos. Não, pelo menos, na sessão que eu estava.
O curioso, desta produção, é que foi gravado na cidade de Ribeirão Preto (SP), tanto na parte urbana e rural, com moradores, elenco e figuração da cidade.
Eis que o espectador verá como quem mora no interior se sente.
Um personagem do filme diz:
“Interior é um cu” (todos se conhecem e sabem tudo de todos).
A separação de Noeli e Júlio vira notícia. Ex-namorados reaparecem, cenas de provocação de ciúme na única boate da cidade e até uma alfinetada, caricata, dos roteiristas sobre cantores sertanejos com helicópteros, podres de ricos e letras de música intragáveis (fique atento a cena do bar, repleta de personagens engraçados e uma das melhores cenas deste filme).
O diretor acertou ao escalar o elenco de protagonistas e coadjuvantes.
Os personagens coadjuvantes são caricatos na medida e que, felizmente, trazem a comicidade que o filme às vezes perde e peca pelo dramalhão.
Prestem atenção nas atuações de Robson Nunes (Pardalzinho), Luciana Paes (Sofia) e Paulinho Serra (bandido hacker), que roubam a cena quando aparecem.
Os protagonistas (Benício e Morgado) tem uma ótima química, mas o filme é de Camila Morgado. Ela funciona sendo comicamente histérica, dramática e até arrisca em cenas de tensão com armas. Sua transição de “dondoca” para “uma mulher que sabe o que quer” é bem convincente e, por vezes, tocante. Mas ambos atores têm o mérito na construção física de seus personagens, nos trejeitos, tiques, na composição visual bem engraçada e até no sotaque do interior de São Paulo convincente. Por um momento, esquecemos dos atores e “viajamos” na história de Noeli e Júlio.
Outro ponto positivo são os efeitos especiais e visuais explorados pelo diretor. Cenas com explosões, trovões, tiros e fugas de carros excelentes.
Se preparem para um filme embalado por muita música sertaneja da moda, sertanejo universitário e até o hino “Evidências” de Chitãozinho e Xororó. Paula Fernandes (cantora sertaneja, para os desavisados) encerra com uma música dor de cotovelo e ajuda a compor o final óbvio de filmes de comédia romântica.
Esperava um final menos óbvio, torcendo por Noeli numa nova vida.
Será possível, na vida real, sermos como personagens de comédia romântica, que repensam suas atitudes e mudam drasticamente para melhor em prol do amor?
Vá assistir, se você quer passar o tempo de forma divertida e sem grandes pretensões.
E o mais importante de tudo: prestigie o cinema brasileiro.
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