O espectador espera por reviravoltas em toda reta final de temporada de qualquer série. Afinal, se não for pra ser surpreendido, a melhor coisa a se consumir são as novelas da TV aberta que (sem nenhum julgamento de valor da minha parte) já são reveladas em revistas semanais e em portais da internet, assim o espectador tem total controle da história nos capítulos “inéditos”.
O que é triste afirmar é que uma novela com reviravoltas daria um resultado muito próximo da quinta temporada de Game of Thrones. Pois sim, há de se considerar que, depois do sucesso da série, uma boa parte do público conhece bem o material original. Como apontei em textos anteriores, uma outra parte do público acompanha a série porque ela entrega violência e não perdoa personagens principais. Com isso, não é incomum ouvir as pessoas dizerem “Ai… será que morre o Tyrion nessa temporada?”.
Arrisco dizer quem não está num grupo ou noutro, abandonará a série para ver só os highlights depois que rolar qualquer rebuliço, como foi o caso do estupro de Sansa no episódio anterior. Na minha opinião, ainda que seja de fato uma mudança polêmica por parte dos criadores da série, Sansa deve ser responsável pela vingança de sua família. No entanto, ela jamais mataria alguém sem motivos reais. Ela não mataria Ramsay antes dos estupros. Essa é a função dramática da cena. Ela mataria Roose porque ele matou Robb e traiu Catelyn. Mataria Theon porque ela acredita que ele tenha matado Bran e Rickon. E agora ela tem motivos para matar Ramsay. Funciona. O que não significa que ela vai matar alguém, porque… bom, porque é Game of Thrones.
Fato é que entramos na reta final de uma temporada que tende a ser a mais fraca até aqui, não só no que diz respeito à história, que, bastante fiel ao material original até o Casamento Vermelho, vem caindo desde a temporada passada, mas também com relação à direção e atuação dos atores, que estão bem longe de interpretar momentos memoráveis, como o julgamento de Tyrion, o banho de Jaime e Brienne e tantas outras cenas onde os atores deram o tom sem que fosse preciso usar sexo ou morte para buscar empatia.
Pela estrutura da série, o sétimo e o oitavo episódio são os que apresentam as reviravoltas para que o nono seja o clímax e o décimo só o posicionamento dos personagens para a temporada seguinte. O episódio The Gift cumpriu a função de guiar a história para o clímax, mesmo com um roteiro exagerado de D&D, com reviravoltas demais e dirigidas sem muita inspiração por Miguel Sapochnik. Remetendo ao título, Theon trai Sansa e entrega informação a Ramsay, Mindinho trai Cersei com informações à Olenna e Tyrion se conduz à Daenerys (cumprindo a função de Jorah, mas invertendo a ordem da missão). Outro gift veio de uma das Serpentes a Bronn, e por que não a dádiva do sexo pela primeira vez de Tarly. Por fim, seguindo essa lógica interna do roteiro, quase Shireen vira um presente também – na verdade não sabemos.
O que vimos foi um roteiro tratando de prender todo mundo: Serpentes, Bronn, Jaime, Margaery, Loras, Cersei, Tyrion, Jorah, Sansa (ela diz que Ramsay a prende o dia todo). Pela primeira vez vemos tantos personagens enclausurados. Se isso serve para alguma metalinguagem, eu confesso que não captei. Tampouco vejo como isso pode ser traduzido da linguagem que certamente representa para algo construtivo na história.
O desfecho de Aemon foi constrangedor. Primeiro porque não houve sinais de que estava doente em nenhuma ocasião. Simplesmente foi conveniente que morresse ali para mandar Sam e Gilly ao sul e deixá-lo “sem amigos”. O que é uma mudança com relação aos livros que me incomodou bastante, pois é Jon que manda Tarly ao sul com aquelas obsidianas, para que pesquise sobre elas na Cidadela. Na série, Sam entrega as lâminas de vidro de dragão a Jon. Aemon, supostamente o último Targaryen vivo além de Daenerys, teve uma morte tola alucinando qualquer bobagem sobre Egg, protagonista dos contos de Dunk and Egg, publicados por GRRM. Pra nada.
Assim como foi uma tolice enorme aquela cantoria de Bronn, de um sadismo exagerado até mesmo para ele. A piada que Jaime faz sobre a própria mão funciona muito mais do que aquela tentativa desesperada de deixar Bronn ainda mais cínico com sua condição. O constrangimento é tão grande nessa cena que empalidece até mesmo a primeira grande aparição de uma das Serpentes, que manipula um veneno à distância usando o corpo para seduzir quem está infectado – o que deve ser usado mais adiante, não tenha dúvida (ocorreu-me que seria legal que esse mesmo veneno fosse usado em Varys, que resistiria à tentativa de excitá-lo e, logo, o veneno não surtiria efeito).
Igualmente constrangedor foi a enorme coincidência na aparição do Fantasma, quando Sam protege Gilly de mais um estupro. Se Jon partiu em uma missão, Fantasma deveria estar preso, mesmo que seja o animal do comandante. Um furo no roteiro, sem dúvida.
Encontramos algo de positivo da mudança de figurino de Dany e Sansa. A primeira voltou a ter um pouco de coloração azul no seu vestido (no texto da semana passada indico o que isso significa). E Sansa, enquanto enclausurada no quarto, vestia roupas claras, o que indica que estava completamente vulnerável e diferente daquela personagem vestida de preto que prometia uma vilã. O curioso é que o figurino que ela veste nas tomadas externas remete a um enigmático personagem dos livros: o Homem Encapuzado. Veremos o quanto disso será aproveitado.
Comments are closed.