The Sons of the Harpy 1

Enfim temos um episódio nos padrões mais altos que a série já produziu. Em todos os sentidos. Com a mesma segurança que dirigiu o episódio anterior, o diretor Mark Mylod se despede muito bem da quarta temporada com ótimos planos e movimentos de câmera que ajudaram muito para uma montagem tão fluída quanto o roteiro. Curiosamente, o melhor episódio de 2015 não foi escrito por D&D, mas por Dave Hill, estreante na função depois de ser assistente direto dos produtores executivos por muito tempo.

E se nota a influência dos melhores roteiros de D&D neste episódio The Sons of The Harpy. Fluído e com as habituais rimas visuais e temáticas, Hill se preocupa em dar uma espécie de busca por redenção a todos os personagens com o intuito de reforçar a complexidade dos personagens que devem ganhar ainda mais importância daqui é em diante. Jorah e Stannis são colocados em busca de redenção pessoal. Jon e Jaime, que já são personagens principais, são expostos a feridas do passado. No caso de Jon, a cena ainda explora os poderes de Melisandre, que traz Ygritte de volta com seu recorrente “Você não sabe nada, Jon Snow”.

E Jaime fica ainda mais ambíguo ao declarar que mataria Tyrion se o visse e ao dizer que gostaria de morrer ao lado da mulher que ama. O interessante aqui é que sua declaração vem momentos depois de admirar Tarth, ilha onde nasceu Brienne, o que pode sim sugerir que nele despertou algo pela grandalhona.

O episódio ainda mostrou o resultado do que dá alimentar (ou armar) fanáticos religiosos de qualquer natureza, importante avanço no núcleo de Cersei. Com tudo bem semeado no episódio anterior, aqui voltamos à previsível carnificina que Game of Thrones promete e cumpre. Claro, limpando a folha de pagamento da HBO. Méritos de Hill, o roteirista não só teve o cuidado de amarrar o exímio guerreiro que foi Baristan Selmy no passado quando lutou com Rhaegar em um torneio, como deu a ele a função de resgatar o lado mais belo do irmão da Dany, quando ainda havia paz nos Sete Reinos.

The Sons of the Harpy 3

O que me traz ao que há de mais importante nesse episódio. Hill dedicou um tempo precioso a Rhaegar e Lyanna. E como foi bem escrito! Ao usar a eficiente dinâmica entre Petyr e Sansa, Hill trouxe um relato fiel do torneio onde Rhaegar, vencedor, deu à irmã de Ned as flores azuis em vez de dar à sua esposa Elia Martell (lembre-se de que Sansa ganhou a rosa de Loras, lá na primeira temporada. Percebe a importância narrativa disso?). Quando Sansa diz que ele fez isso para depois sequestrá-la e estuprá-la, Aidan Gillen segura o texto por um breve momento da mesma forma que Sean Bean fez quando Robert pergunta a Ned o nome da mãe de Jon, também na primeira temporada, o que me indica que ele será o relator da paternidade de Jon Snow.

Já no final do episódio, Selmy conta a Dany como Rhaegar costumava tocar para os pobres nas ruas de Porto Real e depois distribuía o dinheiro. Ora, como o sujeito descrito por Selmy seria capaz de sequestrar e estuprar Lyanna? Hill estreou no roteiro de um dos mais importantes episódios de Game of Thrones. E já fez mais do que muitos que passaram por ali.

Com essa construção oportuna, é de se esperar que um dos grandes mistérios da obra de GRRM venha a ser solucionado ainda nessa temporada. Ainda arrisco dizer que Tyrion encarando Drogon no próximo episódio pode trazer ainda mais reviravoltas nos Targaryens espalhados pelo mundo… mas isso é assunto pra outro texto.

The Sons of the Harpy

O ponto fraco do episódio ficou para a revelação das Serpentes de Areia. Por enquanto, as filhas de Oberyn não fizeram jus ao legado do pai nem ao ótimo trabalho de direção de arte que vem plantando serpentes desde o primeiro episódio, como na ameaça à Cersei, nas aulas de Shireen e no jantar de Bronn. As atrizes não estavam lá tão confortáveis e Indira Varma já teve dias melhores como Ellaria Sand. De qualquer forma, ainda é cedo pra dizer qualquer coisa a respeito dessas personagens.

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Author

Escritor e Crítico Cinematográfico, membro da Associação Paulista de Críticos de Arte e da Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos.

1 Comment

  1. João Luis

    Não sei você, Baldin, mas é impressionante como a personagem que mais me emociona, TODAS as vezes que tem uma cena com ela, é a Shireen. Como assisti os livros, nenhuma das grandes passagens me pegou de surpresa, mas as cenas com a filha do Stannis sempre me dão um nó na garganta. Todas as vezes.

    Na ultima cena dela com o Stannis, em castle Black, cheguei até a marejar os olhos. E nem tenho filhos nem nada. Mas eu acho a persongem mais melancólica que a séria apresentou.