Quando uma comédia depende da trilha sonora para indicar ao espectador uma possível piada, é porque há algo de errado com o filme. Claro, há exceções, mas o que acontece em Correndo Atrás de um Pai é exatamente o que se imagina: carente de boas piadas, o longa não se furta em se utilizar de recursos sonoros para guiar o público rumo a uma gargalhada que não viria naturalmente. E esse esforço excessivo para provocar o riso fica evidente durante toda a projeção, o que é lamentável, ainda mais quando se tem um elenco talentoso como é o caso.

Estréia do diretor de fotografia Laurence Sher (Cães de Guerra) como cineasta, o filme conta a história de Peter (Ed Helms, o Stu de Se Beber, Não Case!) e Kyle (Owen Wilson, de Marley & Eu), dois irmãos de meia-idade que durante a festa do segundo casamento da mãe (vivida por Glenn Close, de Guardiões da Galáxia) descobrem que seu pai não está morto, como foram levados a acreditar, e resolvem conhecê-lo. O problema é que a mãe deles não tem a menor idéia de quem seja (“Eram os malucos anos 70”, argumenta), o que motiva a dupla a iniciar uma busca pela “figura paterna” do título original, gerando encontros embaraçosos com possíveis pais enquanto estreitam novamente os laços fraternais.

Concebido como um road movie desajeitado, o roteiro de Justin Malen (do razoável A Última Ressaca do Ano), força uma química inexistente entre Ed Helms e Owen Wilson, obrigando os talentosos atores a protagonizarem cenas constrangedoras como uma guerra de urina num banheiro público e uma artificial conversa melosa dentro de um carro. Além disso, a produção desperdiça o timing cômico dos protagonistas já que em nenhum momento é capaz de oferecer uma única gag à altura da capacidade de ambos, o que não deixa de ser decepcionante.

E o diretor estreante Laurence Sher, aparentemente ciente da ausência de graça do script, tenta desesperadamente incluir piadas quase que improvisadas, com o intuito de ao menos arrancar um sorriso do espectador, como a deslocada sequência em que Kyle tenta atrair a atenção de um possível pai enquanto este o ignora enquanto joga bola com Peter. Para piorar, Sher demonstra não ter aprendido muita coisa nas comédias em que trabalhou como diretor de fotografia, já que estica praticamente todas as gags ao máximo, estendendo até mesmo banais alívios cômicos, como uma despretensiosa conversa numa fila (cujas pessoas jamais transmitem qualquer tipo de incômodo com a óbvia demora), e uma boba sequência num consultório que culmina numa piada rasteira sobre os órgãos genitais de um gato.

Como se não bastasse a incapacidade de extrair humor, o filme ainda se entrega ao sentimentalismo barato sempre que aborda a questão da ausência de uma figura paterna na vida de Peter e Kyle, o que leva o roteiro a investir, equivocadamente, numa série de pequenas reviravoltas que, ao invés de aprofundar o desenvolvimento dos personagens, soam simplesmente como uma tentativa falha de causar impacto ou imprimir densidade dramática. E o que dizer da batidíssima sequência que coloca os dois protagonistas correndo um direção ao outro em câmera lenta ao som de uma melodia sentimental?

Por falar em protagonista, Ed Helms, diga-se de passagem, sofre terrivelmente com o texto fraco, investindo numa composição reativa que pouco lembra suas divertidas performances na finada série The Office e na trilogia Se Beber, Não Case (onde também vivia um médico). Em contrapartida, Owen Wilson surge mais uma vez em piloto automático, evidenciando um possível desânimo por parte do ator, que desde Meia-Noite em Paris (de 2011) não entrega uma performance digna de seu timing cômico, ao passo que Glenn Close faz o que pode para aproveitar o pouco tempo de tela que tem. E se Christopher Walken (da bomba Virei um Gato) surge completamente desperdiçado, J.K. Simmons é quem se sai melhor, beneficiando-se de uma cena relativamente divertida que envolve a profissão de seu personagem.

Perdendo-se em suas próprias ambições, Correndo Atrás de um Pai é um road movie desajeitado que pretende ser uma comédia, mas que no meio do caminho resolve abraçar o drama, obtendo resultados tremendamente irregulares durante o percurso. Clichê, longo demais e com um humor pouco eficiente, trata-se da primeira comédia decepcionante do ano.

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Crítico de Cinema e Carioca. Apaixonado pela Sétima Arte, mas também aprecia uma boa música, faz maratona de séries, devora livros, e acompanha futebol. Meryl Streep e Arroz são paixões à parte...