Há muitas décadas que o estúdio do visionário Walt Disney (1901-1966) reina absoluto como o mais célebre celeiro dos chamados “filmes para a família” (como o próprio Disney chamava suas obras). E ainda que tenha enfrentado turbulências ao longo do tempo (principalmente depois da morte de seu criador), a Walt Disney Pictures produziu vários dos maiores clássicos desse verdadeiro subgênero que ajudou a construir, marcando diversas gerações. Grande parte desse sucesso, claro, se deve à fórmula criada por Disney e aprimorada por seus sucessores. Dito isso, é inegável que a “magia Disney” conseguiu perpetuar-se mesmo após a morte do titã das animações. A maior prova dessa constatação está no mais novo título da Disney: Meu Amigo, o Dragão.
Remake de outra obra da casa, Meu Amigo, o Dragão acompanha a vida do jovem Pete (Oakes Fegley) que, após sofrer um acidente de carro com seus pais, acaba se perdendo numa floresta e encontrando um gigantesco dragão verde (que ganha o nome de Elliott), com quem formará uma improvável e forte amizade.
Escrito e dirigido por David Lowery (do bom Amor Fora da Lei), o novo filme se distancia do original já em suas cenas iniciais, quando vemos que o dragão Elliott é concebido através de um ótimo CGI, ao contrário da animação convencional de seu antecessor.
Com isso, a nova versão, ainda que calcada no realismo fantástico, abandona completamente a mistura de desenho animado com atores de carne e osso, se esforçando ao máximo para se aproximar do público adulto. Porém, por mais que tente agradar aos adultos (e até consegue), é inegável que o filme ressoará com muito mais força nos mais jovens.
As crianças provavelmente não perceberão que a trama da nova versão apenas recicla uma série de clichês e convenções popularizadas por Walt Disney.
Até mesmo os personagens não passam de estereótipos, como a idealista Grace (Bryce Dallas Howard), o vilão ganancioso (Karl Urban), a figura paterna que sempre se mostra cética (Wes Bentley) e o contador de histórias que nunca deixou de acreditar (Robert Redford).
Aliás, o sempre diligente Robert Redford é o que se sai melhor do elenco, emprestando toda a sua credibilidade a um personagem que provavelmente não teria a mesma relevância caso fosse interpretado por um ator de calibre inferior. Bryce Dallas Howard (A Vila, Jurassic World), pouco é capaz de fazer com um papel que apenas cumpre funções narrativas, enquanto Karl Urban (Dredd, Star Trek) parece se divertir a valer na pele do antagonista Gavin.
Mas é evidente que o filme só funciona graças à dinâmica entre Elliott e o garoto vivido pelo novato Oakes Fegley, que se entrega à Pete com admirável intensidade. Todavia, ainda que faça um bom trabalho como Pete, Fegley merece créditos mesmo é por cumprir com elogiável competência a tarefa de atuar junto a um companheiro de cena imaginário, transformando as cenas em que “interage” com Elliott nas melhores da produção.
E por falar em Elliott, é impossível deixar de comentar o ótimo trabalho da equipe de efeitos visuais do filme, que teve um cuidado especial na concepção do imenso dragão do título. Elliott não só impressiona por seu visual, como fascina com sua personalidade.
Ao prestar atenção no comportamento do dragão, por exemplo, é possível perceber a grande sacada do projeto: conferir uma personalidade canina a Elliott. Essa sacada acabou facilitando, e muito, a tarefa de estabelecer uma aproximação entre o público e o dragão.
Outra prova do esmero da produção reside na cena em que podemos ver que a respiração de Elliott embaça um vidro, resultando em mais pontos para a equipe técnica.
Tecnicamente competente, Meu Amigo, o Dragão também faz bonito em outros aspectos. A fotografia, diga-se de passagem, é mais um belo trabalho do montenegrino Bojan Bazelli (O Cavaleiro Solitário, O Aprendiz de Feiticeiro) que aproveita ao máximo as belas paisagens da Nova Zelândia.
Já a trilha de Daniel Hart é açucarada demais, ao contrário da edição de som, que acerta em cheio na composição dos ruídos emitidos por Elliott.
Comovente e bem produzido, Meu Amigo, o Dragão mergulha de corpo e alma na clássica fórmula Disney, mas ainda que seja previsível, sua bela história de amizade deverá arrebatar muitos corações.
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