Diretor James Foley traz nesta última parte da trilogia (que inclui Cinquenta Tons de cinza e Cinquenta tons mais escuros) cinquenta tons de liberdadee agora no novo filme Cinquenta tons de liberdade um festival de clichês e um trabalho extremamente confuso de direção.

A impressão que tenho que ele fez uma reunião com o péssimo roteirista Niall Leonard Limam e pediu mais ação e suspense, com ares de “Missão Impossível” sem bombas, destacando personagens coadjuvantes e apresentando um vilão nada convincente. Mas para os que buscam as cenas tórridas de sexo não se preocupem. Elas estão lá e nunca vi tanto os mamilos de uma atriz como o de Dakota Jhonson.  O “quarto vermelho” será muito bem explorado, até que Ana possa gritar no seu limite a palavra RED.

James nos traz as telas uma aula de anatomia não tão ousada, sendo obviamente mais explorado o corpo de Dakota (não se preocupe o corpinho do galã aparece em vários momentos, mas não ao limite). O diretor parece insistir que a atriz é uma possível sex symbol do momento, como se fosse a Kim Basinger dos tempos de “Nove e meia semanas de amor (1986)

Se prepare para viradas inexplicáveis na trama, muitas perseguições, a polícia aparecendo na hora certa, sequestros e fugas em carros caríssimos que você só vê em filmes e revistas.

A terceira parte da saga luta o tempo todo para nos convencer da nova fase da vida do casal, mas a relação dos personagens e a atuações são tão bregas e chatas, que é difícil de digerir. O primeiro filme já é fraquíssimo (acredito que fez sucesso apenas por mostrar cenas de sexo mais picantes), mas as duas sequências a seguir são um tiro no pé. Foi decidido que tanto “Cinquenta tons de liberdade” e “Cinquenta tons mais escuros” fossem gravados em sequência e talvez pela direção desastrosa não funciona, apesar de achar o maior erro no roteiro.

Os três filmes são inspirados no best-sellers de E.L. James, um sucesso de vendas, mas fica a minha dúvida o que chama tanto atenção do público feminino sobre suas obras? Fiz uma entrevista com um número grande de mulheres e a maioria não se vê neste filme e acredita que a relação de ambos protagonistas (Grey e Anastasia) é o retrato de uma relação abusiva, um tema que está sendo muito debatido nos tempos atuais. As mulheres realmente sonham em ser submissas?

A impressão que tenho é que Anastasia se apaixona por Grey por ele ser bonitão e bilionário e por lhe proporcionar sexo com doses de violência controlada, lhe tirando do papel de uma virgem inocente para uma mulher que está se auto conhecendo. O roteiro até tenta enganar que quem manda é Anastasia. Tudo é resolvido por Grey e se o espectador quiser fingir que acredita no “empoderamento” que o filme vende é só colocar uma venda nos olhos e sorrir. Não é à toa que em muitos momentos da sessão em que eu estava o público ria de situações e frases abusivas e eu fiquei perdida se só eu que não estava entendendo.

O resultado nas telas até pode ser satisfatório aos que são fãs da trilogia, mas acredito que a preferência fique nos livros.

Beirando a insuportável a trilha sonora insistente, que acertou no primeiro filme com Beyonce (“Crazy in love” com uma pegada pra lá de sensual e a famosa “Earned it” do charmoso The Weeeknd), aqui em “Cinquenta tons de liberdade” exagera na pegada para contribuir com o clímax (o próprio cartaz do filme diz “para chegar no clímax) e eu estou esperando ele até agora. As músicas são uma mistura de músicas com voz enjoativa de mulher americana, com ares de adolescente rica e para meu gosto pessoal não agrada. Teremos “Love Me Like You Do” de Ellie Goulding (tema do romance sensual dos protagonistas) sendo usada numa cena desastrosa de “os melhores momentos do casal” numa retrospectiva piegas.

Você precisa ver as duas sequências anteriores para entender o novo filme, mas se não estiver com paciência só é necessário saber que Anastasia (Dakota Johnson) e Christian Grey (Jamie Doman) estão casados e finalmente trocam alianças.  O poderoso bilionário de coração frio e uma máquina de sexo é laçado finalmente por uma mulher. Ambos terão o desafio de vivenciar a experiência de morarem juntos e entrarem na rotina de um casal. Como seguir apimentando uma relação após o casamento? Mas não se preocupe Anastasia passa o filme todo pedindo para entrar e brincar no quarto vermelho, teremos cena com sorvete pelo corpo e muita lingerie maravilhosa de cair o queixo.

A felicidade dos pombinhos complica com discussões sobre um possível bebê (até porque Grey não aceita que Ana dê atenção para outra pessoa além dele), mas para a infelicidade dos protagonistas teremos um vilão, o ex-chefe de Anastasia que está disposto a se vingar por ter perdido o cargo para ela na editora e também o ódio do passado que ele guarda por Grey. Segundo o vilão Jack Hide (Eric Johnson), Grey lhe deve, mas não farei spoiler.,

A vida de Ana muda completamente. Ela é agora a nova chefe da editora (por méritos próprios), respeitada no trabalho e apaixonada pelo que faz. E agora é a Sra. Grey e mais rica do que você pode imaginar. Uma sucessão de vestidos maravilhosos, cabelos impecáveis e uma maquiagem sempre clean e belíssima.

Imagino o quanto se gastou nesta produção, pois as locações são grandiosas, as casas extremamente luxuosas, com tomadas cheias de imagens de lugares que só os que possuem dinheiro podem usufruir.

Os personagens principais até têm uma evolução durante a trilogia, o que não podemos dizer o mesmo das atuações. Grey agora é um ex- dominador e ex- sádico que parece sofrer o filme todo com o casamento e parece não estar relaxado em nenhum momento. Fica aquela moral que o casamento pode tirar toda a diversão que se tinha antigamente. O “relacionamento baunilha “de ambos fica doce demais, com direito a piano na sala com música romântica, Anastasia várias vezes em close apreciando e suspirando pelo marido, jantinhas caseiras e muita DR do casal com sexo selvagem após.  Anastasia evolui aos poucos, mas segue sendo a “submissa”.

O diretor dá a chance que os atores coadjuvantes apareçam mais (Eloise Mumford, Rita Ora e Lake Grimes), mas é tão novelesca suas vidas, como se estivesse vendo uma novela do Manoel Carlos americana. Acredito que o ator que interpreta Jack Hyde até pode ser talentoso, mas aqui ele tem seus 15 min péssimos de fama, com uma caracterização abatida e com cara de louco e nada convincente. Dakota Johnson segue sussurrando como nos filmes anteriores, mas não posso deixar de destacar que ela é belíssima. James Dornan pode até ser bonito, mas tem uma atuação robótica, um cacoete na parte dos lábios e parece não estar confortável na sua atuação. Parece que ele está o tempo todo num teste de atuação que não deu certo.

O ponto positivo é que ambos têm uma boa química e um desprendimento em cena e acredito que como atores não é uma tarefa tão fácil.  Os corpos são expostos no limite e a atriz teve que ter ajuda psicológica para cenas de sexo que são de alguma forma não convencionais no cinema. Há uma atuação despudorada, mas nada crível.

O título do filme é perfeito Cinquenta tons de liberdade, pois o público tem a real liberdade de terminar uma saga tão broxante com um happy end a la Disney. Acredito que o sucesso se deve a importância que se dá ao sexo no filme e que chama atenção e ruboriza os mais conservadores. Tudo é bem picante e sugestivo. Uma aula ensinando as mulheres o que alguns homens desejam na cama e o quanto uma mulher pode gostar de ser submissa nela.

Sigo achando que este filme é uma tentativa de “empoderamento” e segue o comportamento machista de posse. Uma relação abusiva romantizada, com uma mulher o tempo todo tentando mostrar que ela existe e que as coisas são resolvidas juntos.

Sai do filme apenas com vontade de experimentar o sorvete.

Author

Atriz há 16 anos, apaixonada por cinema. Filha do gerente do ex-cinema Marrocos.

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