Segundo filme do ator Edward Norton como diretor (o primeiro foi Tenha Fé, de 2000), Brooklyn sem Pai nem Mãe conta a história de Lionel Essrog (Norton) assistente do detetive Frank Minna (Bruce Willis em breve, mas boa participação) e sua investigação para encontrar o culpado pelo assassinato do amigo e chefe. Junto com outros colegas, personagens bem trabalhados pelo roteiro e que não servem apenas como escada para o protagonista, Lionel descobre que Frank havia descoberto algo muito maior do que a costumeira traição conjugal ou sócio roubando sócio.

BROOKLYN SEM PAI NEM MÃE

Além do elenco diverso e afiado, talvez graças ao fato de Norton ser um grande performer e entender bem o trabalho do ator, ele mesmo se dá de presente um personagem traumatizado pela vida de garoto de rua, que sofre de Síndrome de Tourette (comum por fazer a pessoa xingar aleatoriamente e dizer coisas desconexas), tiques, TOC e talvez outas doenças. Altamente inteligente e com boa memória, apesar de suas incapacidades sociais, Norton entrega uma ótima performance e apesar dela provocar um certo riso involuntário em cenas que deveriam ser sérias, isso faz parte do que é ter essa doença neurológica, você não tem controle algum sobre quando ou como você vai se retorcer ou falar alguma bobagem.  Pode distrair o espectador, mas é bastante realista.

E por falar em realismo, a direção de arte desse filme noir passado nos anos 50, replica digitalmente e com perfeição grandes e pequenos espaços de New York e a profusão de belos carros antigos (talvez alguns digitais, mas muitos de colecionadores) é uma beleza de se ver. O filme foi baseado no livro homônimo de Jonatham Lethem, publicado em 1999. No livro, a trama se passa nos anos 90, mas Norton optou por fazer uma homenagem aos velhos filmes de detetive e para isso, nada melhor que fosse nos anos 40 ou 50. Mas os anos 50 foram escolhidos por um bom motivo.

E aí entra o personagem de Alec Baldwin, que depois de já ter feito um executivo republicano de bom coração na excelente série cômica Um Maluco na TV e imitar Donald Trump várias vezes no Saturday Night Live, agora tem uma chance de representar um personagem bem mais sério ao estilo Trump. Seu personagem, Moses Randolph, é inspirado na figura real de Robert Moses, que após a Segunda Guerra e até os anos 60, construiu centenas de parques, ergueu estádios, pontes, autoestradas, casas de espetáculos, prédios, etc.

Parece bacana, mas para fazer isso estima-se que ele pode ter expulsado meio milhão de pessoas pobres de suas casas e empregos. Assim como o Moses real, o Moses de Baldwin é o homem mais poderoso de cidade e apesar de ser um suposto funcionário público, tem mais poder que o prefeito e usa isso para colocar em prática seu sonho de construir uma bela cidade. De preferência sem pobres e sem negros. Além do comportamento dessa figura racista histórica, quem acompanha política irá identificar frases similares às de Trump saindo da boca do personagem de Baldwin.          

Apesar do tom fortemente político e anticapitalismo selvagem que Norton trabalha no filme, o diretor optou por trazer também uma narrativa romântica ao filme, o que motiva muitas das ações de Lionel, visto que seu interesse romântico é a ativista negra Laura Rose (a bela Gugu Mbatha-Raw). A relação dos dois serve de contraponto entre a humanidade e a desumanidade que o filme apresenta e seu final segue a cartilha dos bons filmes noir: é tão cínico quanto realista.  

 

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Diretor, roteirista e blogueiro terráqueo. Dirigiu alguns curtas, uma minissérie e tem três blogs, um canal no You Tube, uma página no Facebook e projetos para 10 vidas.

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