Blade Runner 2049Blade Runner 2049

“O mundo é construído sobre um muro que separa as espécies. Diga a ambos que não há um muro e você comprou uma guerra”

Com essa frase somos jogados em Blade Runner 2049. Ao fim, percebemos o quanto este filme está falando dos tempos atuais e o quanto isso pode perturbar o espectador, o que no meu caso aconteceu.

Com estreia para 5 de outubro, temos a continuação de “ Blade Runner, Caçador de Androides”, filme que há 35 anos foi gravado por Ridley Scott e que, agora, passa em 2049 (30 anos após ser narrada no filme anterior).

O novo filme da safra tem a direção do aclamado diretor canadense Denis Villeneuve, com Ridley na produção executiva

Para quem não sabe, e nem eu sabia, o filme é inspirado no livro ”Androides Sonham com ovelhas elétricas? ”, de Philip K Dick.

Blade Runner 2049 acompanha a história do oficial K, conhecido como Joe (Ryan Gosling), um blade runner que tem a missão de desvendar novos mistérios relacionados aos replicantes.

Ele descobre um segredo. A replicante Rachel (Sean Young)) teve um filho, mantido em sigilo, e a possibilidade que replicantes se reproduzam, pode desencadear uma guerra que faz com que a tenente Joshi (Robin Wright), chefe de K, o envie para encontrar e eliminar a criança.

K vai ao encontro de Deckard (Harrison Ford) para ter sua ajuda.

O oficial K descobrirá que ser um Blade Runner é tão doloroso quanto os segredos do passado e, aqui, Ryan interpreta um personagem solitário e sem conexões humanas, que repete o que um robô diz, que tem a incapacidade de “amar” e até ter lembranças da sua infância.

Blade Runner 2049

Ultimamente, em Hollywood, está acontecendo que, muitas franquias engavetadas por anos, estão voltando com tudo para alegria de muitos fãs.

Nem todos filmes que possibilitam uma continuação e são considerados clássicos deveriam se arriscar numa volta, mas este vale só por ter mais uma atuação de Harrison Ford.

A direção de Villeneuve (“ A Chegada”, ” Sicario – Terra de ninguém”, “Incêndios”), um diretor que, em todos seus filmes, é um verdadeiro contador de histórias, sabe nos conduzir com maestria à trajetória de seus personagens principais e, em Blade Runner 2049, tem ótimo desempenho em sua direção de atores e na atmosfera para homenagear o primeiro filme da safra.

O diretor traz Ryan Gosling sendo o substituto de Harrison e o bastão é passado com maestria, além de ambos terem uma química perfeita em cena. Gosling é um dos meus atores preferidos da atualidade e tem uma atuação precisa como oficial K.

Destaque para escolha de elenco: Jared Leto e Dave Bautista em rápidas aparições e o trio de atrizes belíssimas e poderosas Ana de Armas, Sylvia Hoeks e Mackenzie Davis.

Prestem atenção na atriz Sylvia Hoeks como Luv. Ela é incapaz de sentir empatia por humanos.

Como é citado no filme “não subestime sua fúria, pois até os anjos podem ser os caçadores mais mortais”.

Luv tem o rosto angelical, mas pode ser um monstro gritando. Nas cenas de luta, ela mostra que é a melhor (como se define) e na frieza matando quem passa pela frente, mostrando que Sylvia é uma ótima atriz, nos dando um presente de atuação.

Blade Runner 2049

Jared Leto, como Niander Wallace, está muito bem construído, criando excelente clima em suas rápidas aparições. Jared se transforma em seus personagens, tanto que o ator usou lentes de contato que faziam com que sua visão ficasse debilitada e precisasse ser guiado por assistentes entre uma cena e outra.

Para alguns, pode se ver como desnecessário essa vivência, eu vejo como verdadeiro prazer de ser ator e aproveitar disso.

Harisson, voltando como Deckard, tem uma atuação expressiva e torço que tenha uma indicação ao Oscar de ator coadjuvante (até porque, em sua carreira, teve apenas uma indicação), mesmo sabendo que muitos atores, ainda este ano, podem apagar esta possibilidade.

É estimulante ver um ator de 75 anos tendo cenas de lutas sem dublê (por sinal, ele até deu um soco de verdade em Ryan durante as filmagens) e que perpassa vários sentimentos durante sua pequena participação (a câmera capta uma verdade absurda em sua atuação), além que sempre é bom revê-lo em personagens marcantes (aqui como o Blade Runner Deckard ou em outros filmes como Han Solo em Star Wars).

Sempre tenho impressão que torço por seus personagens e ele será para sempre o herói criado em meu imaginário.  Sua atuação me emociona, crio empatia e cada vez que ele se machuca, torço para que se levante.

Outro destaque do filme é a dobradinha Villeneuve com o diretor de fotografia Roger Dinks.

Dinks é sensacional e nos apresenta uma paleta de cores (frias e quentes), silhuetas dos personagens jogadas com a luz e tudo parece palpável, que por momentos dá até vontade de tocar a tela do cinema. Acredito que está na hora de Dinks receber sua tão esperada estatueta do Oscar, pois já soma mais de doze indicações e nunca levou o tão aguardado prêmio.

Blade Runner 2049 é uma experiência cinematográfica, com cenas fascinantes e cheia de efeitos especiais (outra categoria que poderá ser indicada no Oscar) que sobressaltam aos olhos. Um filme bom, mas não uma obra prima como seu primeiro filme. Ele abraça a ficção científica e abandona o tom de filme noir do anterior.

Recria boa parte da atmosfera do original sem fazer uma cópia. É uma expansão do universo que conhecemos no filme de 1982.

Somos jogados numa reflexão filosófica existencial sobre a natureza das memórias, da nossa individualidade. O que nos define como humanos? Quais são nossas memórias reais e verdadeiras?

Toda essa reflexão me cansa um pouco, ainda mais por este filme ser lento. Se em 1982 o filme já era considerado assim, neste é muito mais pausado, calculado e contemplativo. São 2h32min de uma imersão que, às vezes, para meu gosto pessoal cansa. A partir da metade até o final, principalmente do encontro de K com Deckard, o filme decola, emociona e me hipnotiza.

Por ser analítico e nada visceral, ele foge do que procuro no cinema, mas talvez por não estar acostumada a filmes de ficção científica.

Confesso que tem sido um barato ver filmes deste gênero. Não entrei tão empolgada na sessão como o restante, mas é interessante ver o mundo de outra forma. É como se eles colocassem uma lupa sobre o mundo e me indicassem como será nosso futuro.

Blade Runner 2049

Em Blade Runner de 1982, vemos uma Los Angeles (que se passa em 2022) numa cidade escura, super populada. Em Blade Runner 2049, vemos uma cidade que provavelmente passou por destroços de bombas, iluminada por cores artificiais das luzes néon, prédios gigantescos destroçados, cheias de mulheres robôs nus, projeções por todos os lados, hologramas, pessoas estranhas e mal-encaradas, sujeira e uma frieza absurda. As mulheres são fortes, agressivas, estão no poder e hipersexualizadas.

Mesmo com a trilha do primoroso Hans Zimmer, Johan Johansson e Benjamin Wallfisch, parece que falta sentir aquela palpitação ao escutar Vangelis (música tema da obra de 1982). A trilha até lembra, mas não chega.

O legal de Blade Runner 2049 é que, personagens que estavam no primeiro, voltam neste segundo (não só Deckard) e até com a mesma cara.

Para não estragar a surpresa (sem spoiler), é interessante como a passagem desta personagem mostra o quanto o primeiro filme tem de moderno e interessante na composição do figurino de seus personagens e o quanto este personagem é emblemático.

Estou ansiosa para saber o que os fãs do primeiro filme vão achar desta sequência. Villeneuve honrou a safra?

Você não precisa assistir o filme de 1982 para entender esta nova obra, mas duvido que não vá numa locadora (as existentes) ou compre o DVD para conferir e ligar esse quebra-cabeça tão instigante.

Dicas para uma imersão em Blade Runner 2049:

1) Reveja Blade Runner, o Caçador de Androides ou veja pela primeira vez esta obra prima (sim, este realmente é uma obra). Vale muito escutar Vangelis (música tema) com som bem alto.

2) Assista Blade Runner 2049 na maior tela que você conseguir ver e de quebra, se rolar, em 3D. Será uma ótima vivência.

3) Confira os três curtas que antecedem Blade Runner 2049. O diretor é tão bacana que pediu a artistas, que ele respeita, que criassem curtas que dramatizassem eventos importantes ocorridos após 2019, ano que se passa o primeiro filme.

Black out (retrata 2022) – uma animação dirigida pelo japonês Shinichiro Watabe, que mostra uma explosão que causou o blecaute que afetou o mundo inteiro.

Nexus Dawn dirigido por Luke Scot (retrata 2036) onde Niander Wallace (Jared Leto) apresenta uma nova linhagem de replicantes, totalmente obedientes aos humanos.

Nowhere to run (retrata 2048), repetindo direção de Luke Scott, onde Dave Bautista faz um replicante em fuga

* Curiosidade: Luke é filho do diretor Ridley Scott que dirigiu o primeiro filme.

Vocês concordam com esta crítica, que Blade Runner 2049 é o melhor filme de 2017. Será?

Author

Atriz há 16 anos, apaixonada por cinema. Filha do gerente do ex-cinema Marrocos.

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