O novo As Panteras abre com uma frase empoderadora de Sabina Wilson (uma divertida Kristen Stewart):
“Mulheres podem fazer qualquer coisa.”
Isso já dá o tom que a diretora Elizabeth Banks, também atuando como a nova Bosley, quer imprimir ao filme. Embora a mensagem feminista e a sororidade sejam essenciais e necessárias nos tempos reacionários e misóginos que vivemos, nem sempre elas são passadas da melhor maneira.
Após um breve prólogo no Rio de Janeiro com uma cena de ação mostrando diversas Panteras, entre elas Sabina e Jane Kano (Ella Balinska), a edição mostra várias garotas e mulheres comuns realizando todo tipo de atividade e ao longo do filme (inclusive nos créditos finais) temos aparições de celebridades femininas de áreas diversas.
Isso tudo parece ser muito bom para um filme de ação feminista para adolescentes, mas como é praxe na maioria dos filmes de Hollywood, não há destaque algum para mulheres com corpos fora do padrão ou que não sejam jovens, lindas, sedutoras e sempre muito bem maquiadas e de cabelo feito.
O filme não chega a ser um reboot da série/filmes como alguns disseram, mas é sim uma continuação da franquia, pois tanto a série original As Panteras (1977 -1981) quanto os dois filmes com Diaz, Barrymore e Liu não só são mostrados como também um acontecimento de As Panteras Detonando (2003) é mencionado. O universo da companhia Townsend pertencente a Charlie, o empregador das Panteras, é ampliado nesse filme para uma organização global de detetives/espiãs femininas. E em cada filial existe um(a) Bosley para as Panteras locais chamarem de seu/sua.
Nos dois primeiros filmes, as Panteras se divertiam o tempo inteiro, tanto nas baladas quanto combatendo criminosos. O roteiro era divertido e poderia se dizer que era uma comédia de ação e o diretor sabia que não dava pra levar nada a sério mesmo, pois o conceito principal do filme era o da clássica canção de Cindy Lauper: Girls Just Wanna Have Fun (As Garotas quem apenas se divertir).
O tom feminista e empoderador estava obviamente presente nas ações e em um ou outro diálogo sem forçar a barra. Nesse novo filme da franquia (será que já dá pra chamar assim?), apesar do feminismo se fazer mais necessário ainda, ele soa forçado em muitos momentos e a sororidade mais ainda, como quando uma das Panteras chora por uma colega ferida com a qual não nutria muita simpatia, mas simplesmente porque estava escrito no roteiro, de repente, sem nada que as tivesse unisse emocionalmente em quaisquer cenas anteriores, ela lamenta por sua “grande amiga”. Zero desenvolvimento de personagem.
Não ajuda também a direção para onde Banks decide levar o filme. Não dá pra dizer que isso é culpa da Marvel, pois já se faziam filmes assim antes, mas certamente o desespero em tentar fazer filmes de ação genéricos com muitas piadinhas tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. Como a ação se pretende mais realista e menos cartunesca como nos filmes anteriores, as piadas soam inapropriadas a maior parte do tempo.
Apesar de Stewart entregar uma performance acima do esperado, ela ainda não tem o carisma de nenhuma das Panteras anteriores e muito menos as mais novatas Ella Balinska e Naomi Scott (aqui, uma cientista que se torna uma Pantera em treinamento).
Por fim, a trama do filme lida com supostas questões ambientais/tráfico de armas/terrorismo, algo que não decola e não convence muito, já que a ação séria é (mal) contraposta pelo tom jocoso das personagens. Para um filme que se pretendia feminista, ele perde a chance de trabalhar temas como violência doméstica, tráfico de escravas brancas (na verdade, de todas as etnias), prisão e execução de ativistas feministas em nações misóginas, etc. Banks tinha dois bons caminhos para continuar esse As Panteras; continuar o tom escrachado dos filmes de McG (como faz a franquia Kingsman) ou revitalizar elas ao estilo Bourne. Preferiu o caminho do meio, entregando uma ação genérica engraçadinha mas sem carisma e que não seduz o espectador um pouco mais exigente.
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