Clara mora no edifício Aquarius, em Recife, último com arquitetura antiga da orla. Uma construtora tem planos de erguer ali um prédio mais moderno e conseguiu adquirir todos os outros apartamentos, que estão vazios. Clara deixa claro que não tem intenção de vendê-lo mas passa a sofrer todos os tipos de pressão para mudar de ideia.
Desde sua estreia em Cannes esse filme vem sendo envolvido em várias polêmicas. Não vou falar sobre isso aqui, deixarei para que tirem suas conclusões ao lerem a matéria sobre a coletiva.
O diretor, Kleber Mendonça Filho, saiu do quase anonimato com “O Som Ao Redor”, o que fez com que as expectativas sobre Aquarius se elevassem muito. Não sou muito fã do primeiro filme citado, o acho arrastado e com atuações – por parte dos atores desconhecidos – um pouco duvidosas.
Aquarius mantêm um ritmo lento similar, mas isso te ajuda a embarcar na trama e nos sentimentos dos personagens.
Inclusive, sobre eles, temos aqui um elenco de primeira.
Humberto Carrão convence muito no papel de um rapaz que tenta ser simpático e agradável, mas que na realidade se trata apenas de um menino rico e mimado. Também podemos observar uma evolução a olhos nus de Maeve Jinkings, que em “O Som Ao Redor” não mostra muito seu potencial e aqui se doa em uma relação conflituosa com a mãe.
Falando em sua mãe, Sônia Braga cria de tal forma sua personagem que o telespectador não consegue tirar os olhos dela. Sim, é uma mulher de idade, um pouco afastada da família e sem muitos afazeres, mas não menos decidida ou sem vontades.
Todas essas atuações são levadas por uma trilha sonora que com certeza te despertará algum saudosismo, mesmo que não seja da sua época nem mesmo de sua infância. Cada segundo de música é milimetricamente casado com a cena em questão.
Para deixar tudo ainda mais realista, a cenografia constrói ambientes que remetem realmente a uma casa brasileira, e não aqueles ambientes perfeitamente decorados, com objetos que recordam a casa de uma avó ou uma tia, que remetem a forma do brasileiro padrão montar seu lar.
Claro que o filme não se trata apenas de beleza estética. Estamos tratando aqui de uma obra que questiona a transformação de uma sociedade, a forma como as cidades vão esquecendo sua história em prol do luxo.
Além disso, ainda está ali o conflito entre o velho e o novo no quesito ser humano. A partir de que ponto alguém deixa de ter valor para a comunidade? Quando que as vontades e desejos param de existir? Em que momento uma mulher para de ter o direito de sentir tesão?
Ao contrário do diretor, eu acredito que o filme cabe sim dentro da censura de +18, porém não se compara a filmes como “Ninfomaníaca”, por exemplo. Entretanto é obrigatório para todos que já passaram dessa idade.
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