Susan, uma curadora de arte bem sucedida, está passando por uma crise em seu relacionamento. Em meio a essa turbulência ela recebe o manuscrito do novo livro de seu ex-marido, dedicado a ela. Ao ir lendo a trágica história passa a pensar o porque daquela dedicatória e a rever os passos de sua vida. Animais Noturnos é uma adaptação do livro Tom & Susan de Austin Wright.
A trama se desenvolve em duas histórias: a do livro e a da vida de Susan – essa dividida ainda em presente e passado. Isso talvez possa deixar, pelo menos a princípio, as coisas um pouquinho confusas. Mas aos poucos tudo se ajeita e as linhas cronológicas paralelas não atrapalham o entendimento. O roteiro é denso, trabalha sentimentos profundos e repugnantes de uma forma atraente.
E isso é ainda mais exaltado por uma fotografia incrível – as cores e os ambientes deixam tudo meio estéril mas ao mesmo tempo refinado e inatingível – e uma ausência de trilha sonora que intensifica os sentimentos propostos, tendência que venho observando bastante no cinema atual, a falta de música bem trabalhada consegue trazer mais resultados do que música constante só para não deixar o vazio.
Voltando a fotografia, na parte em que é contada a história do manuscrito algo ali me remeteu muito a “Onde os fracos não têm vez”, não sei se por se passar em uma região desértica, pelas cores escolhidas ou pela atuação de Michael Shannon – inclusive, construindo o papel com tanta qualidade e realidade que o caráter dele fica dúbio.
Ainda sobre o o elenco temos Amy Adams e Jake Gyllenhaal no que arrisco chamar de melhor momento de suas carreiras, ambos vêm pegando uma sequência de filmes arrebatadores. Amy, concisa, fria e ainda assim muito expressiva. Jake, sentimental e a flor da pele o tempo todo, deixando bem claro que está dando tudo de si. A escolha de Isla Fischer como esposa da versão literária de Jake foi uma ótima opção, afinal ela e Amy são muito parecidas fisicamente, deixando claro ali a ligação da história real entre Susan e seu ex-marido e o casal da obra. A única escolha que questionaria seria a de Armie Hammer, que traz a beleza necessária ao personagem mas peca um pouco na atuação robótica.
Peço atenção a sequência de abertura do filme que vem para chocar os desavisados, deixando claro que não se trata de mais um filme comum, ao mostrar um grupo de cheerleaders obesas dançando nuas.
Talvez não seja um filme para todos, tem uma carga emocional pesada e cenas fortes, além de um final um pouco duvidoso. Mesmo assim é uma obra surpreendente e que com certeza trará ainda mais destaque para o trabalho de Tom Ford.
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