Seis anos se passaram desde a estréia de Alice no País das Maravilhas. Naquela versão adaptada com atores reais, uma frase chamava a atenção no pôster: “De Tim Burton”. E aquela frase, quase como parte integrante do título, podia ser lembrada em cada frame da produção. AliceEstavam lá todos os elementos característicos da obra do consagrado diretor, cujo visual inspirado pelo Expressionismo Alemão já acompanhou diversas películas, desde Os Fantasmas Se Divertem, até a nova versão de A Fantástica Fábrica de Chocolate.

E como em seus mais recentes trabalhos, o visual acabava chamando mais atenção do que o filme em si, e, com isso, Alice no País das Maravilhas ficou marcado pelo visual deslumbrante, mas também pela história fraca e entediante. Nesta seqüência, sai Tim Burton (agora apenas produtor) e entra James Bobin (do novo Muppets). O resultado é um filme um pouco mais preocupado com o roteiro e com visual diametralmente oposto ao filme original, embora ainda grandioso.

Contando com a liberdade de poder criar uma história completamente inédita e sem se prender a outros materiais, a roteirista Linda Woolverton mantém a estrutura episódica do filme original, mas agora pontua a trama com um bem-vindo humor descompromissado. Entretanto, se Woolverton acerta ao criar uma história leve e sem muitas complicações, erra ao jamais conseguir justificar a existência dessa continuação, que se apresenta como um desnecessário (ainda que razoavelmente divertido) capítulo de uma improvável franquia. Aliás, a história praticamente não existe, pois a trama acaba se resumindo à jornada de Alice (novamente Mia Wasikowska) para ajudar ao chapeleiro (Johnny Depp, ainda extravagante) enquanto é perseguida pelo Tempo (Sacha Baron Cohen, em excelente forma). O Chapeleiro Maluco, por sinal, passa a ser o verdadeiro centro da trama, ainda que Alice continue sendo a protagonista.

Alice

Contando com o retorno de todo o elenco principal, Alice Através do Espelho ainda se beneficia imensamente da presença inebriante de Sacha Baron Cohen, que quase rouba o filme para si, transformando o Tempo no melhor personagem da trama. Enquanto isso, Mia Wasikowska surge um pouco mais à vontade como Alice, ao passo que Johnny Depp praticamente repete sua atuação como o Chapeleiro Maluco. Já do elenco secundário, apenas Helena Bonham Carter tem chance de explorar sua Rainha de Copas (ganhando inclusive uma história de origem), já que Anne Hathaway e Alan Rickman apenas fazem pontas.

Auxiliado por fantásticos efeitos visuais, James Bobin concebe um visual que pouco lembra o de Tim Burton, criando sequências que, de tão coloridas e grandiloquentes, acabam por fazer inveja a muitas aventuras por aí.  Bobin, aliás, consegue imprimir energia ao filme, evitando os bocejos causados pelo filme anterior.

Tecnicamente impecável, a franquia continua a apresentar um ótimo design de produção, o que poderá render novos prêmios à Disney. Os figurinos também se mantém irretocáveis, destacando-se o imponente traje do Tempo.

No final, o roteiro ainda tenta desajeitadamente tecer uma reflexão sobre o tempo, mas que, embora até seja fascinante, não é desenvolvida a contento. Com isso,  essa desnecessária continuação de Alice no País das Maravilhas se revela um pouco superior ao seu antecessor, mas ainda não faz jus à obra de Lewis Carroll.

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Crítico de Cinema e Carioca. Apaixonado pela Sétima Arte, mas também aprecia uma boa música, faz maratona de séries, devora livros, e acompanha futebol. Meryl Streep e Arroz são paixões à parte...

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