Em A Grande Mentira, Roy Courtnay (Ian McKellen) é um sedutor golpista octagenário que seduz jovens e ingênuas septuagenárias endinheiradas para, depois de conquistar a confiança delas, ir embora com suas economias. Mas aparentemente isso não é o suficiente para Roy, que também arma esquemas com outros colegas e capangas para enganar homens de negócios com propostas atraentes de investimento prometendo enriquecimento imediato. Mais ou menos como a Betina naquelas propagandas enganosas da Empiricus que irritam todo mundo no You Tube. E graças ao romantismo dos sites de relacionamento, é muito fácil para Roy encontrar suas vítimas e a escolhida agora é Betty McLeish (Helen Mirren), que um ano atrás perdeu seu marido. Talvez alguns espectadores achem Betty um tanto apressada para encontrar um novo companheiro, mas depois que se passa dos 70, você nunca sabe quanto tempo ainda lhe resta. Mas sabe que é pouco.
Não demora muito e Roy e seu contador e cúmplice Vincent (Jim Carter) descobrem que Betty possui 2,5 milhões de euros em sua conta. Apesar disso, nenhum dos vigaristas estranha o fato dela viver em uma casa de classe média, ter um carro comum e mesmo comentar que se tivesse mais dinheiro ela poderia viajar para algumas partes do mundo. Eu não sei vocês, mas a minha calculadora mental diz que com todo esse dinheiro dá para viajar o mundo todo confortavelmente e ainda sobrar dinheiro para o resto da vida. O fato de Roy comentar que com o dinheiro dela finalmente poderá se aposentar também beira ao ridículo quando descobrimos que ele já tem cerca de 3,5 milhões de euros na sua conta pessoal. Quando questionado se vai tirar todo o dinheiro de Betty, que está doente, Roy diz que sim, pois pretende passar o resto da vida bebendo champanhe na praia. Nessa hora me dei conta que o roteirista Jeffrey Hatcher e o diretor Bill Condon são típicos artistas de humanas, não sabem fazer contas. Porquê com 3,5 milhões e 80 anos, quantos champanhes você ainda vai poder beber na praia?
Bem, chega de comentar cenas do filme, mas não se preocupe que tem muitas surpresas e reviravoltas no filme. Uma pena que quase todas você vê chegando de longe. É como aquela criança pequena que coloca uma máscara e fica muito mal escondida achando que vai te assustar. Você finge que está surpreso e assustado, mas você faz isso para não magoar a criança. Como aqui não é caso, o espectador fica apenas aguardando o já muito antecipado momento de revelação. Fica a esperança de que a revelação seja interessante, mas ela é ineficaz como o grito de “Bú!” da criança.
Uma revelação que até poderia ser bastante auspiciosa, é construída de forma morna e sem muita lógica e o embate final entre golpista e vítima se revela sem sentido depois de termos total conhecimento do que um dos personagens é capaz.
Mas se o filme não engana ninguém, ele ganha pontos com a verdade do casal de atores, que do alto de sua vasta experiência teatral e cinematográfica, são o que filme tem de realmente positivo. Os gestos, as nuances e os olhares de cada um torna o jogo entre Mirren e McKellen algo raro e muito apreciado em uma indústria que vive de descartar grandes atores idosos para focar em jovens de talento cru ou duvidoso.
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