Publicado pela Dama de Villeneuve em 1740, o conto francês A Bela e a Fera tornou-se popular através da edição resumida de Jeanne-Marie de Beaumont em 1756, a bela e a fera que continha mudanças suaves, mas que alterava levemente o tom daquela narrativa.

Séculos se passaram e a história foi adaptada inúmeras vezes para os mais diversos meios e das mais variadas formas, até consagrar-se mundialmente com a belíssima e inesquecível versão produzida pela Disney e lançada em 1991, que tornou-se o primeiro longa-metragem inteiramente animado a ser indicado ao Oscar de melhor filme e conquistou duas estatuetas (Melhor Canção Original e Melhor Trilha Sonora).

Ao som de “Beauty and the Beast” (ou “Sentimentos São”, na versão brasileira), A Bela e a Fera conquistou milhões de fãs e arrecadou quase meio bilhão de dólares em bilheteria. Exatamente por conta de todo esse carinho que esta versão live-action (com atores reais) acabou gerando expectativa tanto na Indústria como no público.

Dando continuidade à estratégia recente de adaptar seus maiores clássicos, aqui a Disney se distancia de Malévola (que apresentava um ponto de vista inédito) para se aproximar de Mogli (que seguia de perto o desenho original), e acaba atingindo um grau de fidelidade impressionante.

Cenas são recriadas plano a plano, evidenciando uma preocupação quase obsessiva em repetir os momentos da animação clássica. Com isso, sequências como a que se passa na vila de Bela (e apresenta a primeira canção da narrativa), são praticamente idênticas à da animação.

Ponto para o design de produção assinado por Sarah Greenwood (Anna Karenina) que realiza um trabalho formidável tanto na representação dos cenários (a vila e o castelo) como na concepção dos objetos animados (note o detalhe da xícara quebrada), que ganham uma bem-vinda atualização, evitando algumas armadilhas (o candelabro agora possui pernas) e deixando espaço para os ótimos efeitos visuais brilharem.

a bela e a fera

Além disso, se o figurino de Jacqueline Durran (vencedora do Oscar por Anna Karenina) limita-se a reproduzir os modelos da animação, o mesmo não pode ser dito da trilha sonora que é novamente assinada pelo grande Alan Menken: vencedor do Oscar pelo original, Menken aproveita não só a oportunidade de escrever novas canções (são três) como acerta em cheio nos novos arranjos para o tema principal.

Falando nas novas canções, elas refletem não apenas a competência de Menken como também comprovam a compreensível (e inevitável) intenção de alongar a trama (a original durava menos de uma hora e meia. Dessa forma, a narrativa passa a apresentar pequenos problemas de ritmo entre os números musicais, surpreendendo ao trazer a vibrante “Be Our Guest” como o ponto alto do musical, ao invés da icônica “Beauty and the Beast” que surge menos grandiosa e muito menos colorida.

“Be Our Guest”, por sinal, reafirma o talento inquestionável de Ewan McGregor (o eterno Obi-Wan Kenobi) como artista: dublando o candelabro Lumière com uma vivacidade contagiante, o ator britânico também destaca-se cantando, relembrando sua espetacular performance no excepcional Moulin Rouge – Amor em Vermelho.

Outro que rouba a cena é Josh Gad (o Olaf de Frozen) um ator extremamente talentoso e carismático que finalmente tem a chance de se provar, transformando o simpático LeFou na figura mais humana e cativante do filme (e que merece aplausos pela ótima performance na seqüência do bar). Aliás, toda a polêmica que envolveu a sexualidade do personagem se mostra irrelevante, visto que sua admiração por Gaston também é mostrada na animação, ganhando aqui apenas a função de alívio cômico.

a bela e a fera

Gaston, em contrapartida, beneficia-se de toda a canastrice de seu intérprete, Luke Evans (do fraco Drácula: A História Não Contada), para revelar-se como um belo contraponto à Fera, e seu visual é outra demonstração do cuidado da produção em manter-se fiel à animação de 1991.

E eis que chegamos aos protagonistas.

Conseguindo distanciar-se de sua marcante Hermione, Emma Watson não só traz força à Bela, como a compõe com independência e personalidade. Inteligente o bastante para perceber que não transmitiria a mesma sensibilidade da personagem original, Watson compensa com atitude, fazendo de Bela uma figura suficientemente corajosa para encarar a Fera que, por sua vez, é encarnada por um irreconhecível Dan Stevens (da série Legion), que é hábil ao alternar entre doçura e ameaça, ao investir num tom de insegurança e desesperança.

Por fim, o cineasta Bill Condon, que já demonstrava dificuldades ao dirigir o (razoável) musical Dreamgirls, volta a apresentar sequências musicais pouco inspiradas, porém sendo salvo desta vez pela (me perdoe por soar repetitivo) absurda fidelidade ao desenho, que acaba servindo como distração em meio aos burocráticos movimentos de câmera.

Contudo, Condon e o diretor de fotografia Tobias Schliessler (do bom O Grande Herói) criam belas imagens ao reproduzirem planos idênticos ao da animação, o último não tem o mesmo sucesso ao optar por seguir o óbvio na composição dos quadros e na escolha das cores.

Apesar de tropeçar pontualmente em diálogos tolos (“Como ser forte se você me deixa tão fraco?”), e ao apresentar subtramas desnecessárias (como a que envolve a mãe de Bela), A Bela e a Fera termina com saldo positivo, merecendo elogios por conseguir evocar com competência toda a nostalgia despertada pela animação de 1991.

NOTA: Os créditos finais são embalados pela nova versão de “Beauty and The Beast”, cantada por Ariana Grande e John Legend.

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Crítico de Cinema e Carioca. Apaixonado pela Sétima Arte, mas também aprecia uma boa música, faz maratona de séries, devora livros, e acompanha futebol. Meryl Streep e Arroz são paixões à parte...

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