Pegando emprestado o codinome da operação que desencadeou o Dia-D na Segunda Guerra Mundial, Operação Overlord mescla gêneros ao retratar os horrores da guerra numa trama que mistura realismo e fantasia. Tendo início com uma impressionante tomada que mostra uma tropa estadunidense tendo de abandonar um avião bombardeado, a trama logo mergulha de cabeça nas convenções dos filmes de Guerra.
A começar pelos personagens, Boyce, Ford, Chase e Tibbet são meros arquétipos, funcionando apenas como instrumentos à serviço do roteiro: Boyce (Jovan Adepo, de Um Limite Entre Nós) é o soldado corajoso e certinho, Ford (Wyatt Russell, de Anjos da Lei 2) faz o cabo linha dura, o líder que não hesita em usar a violência, Chase (Ian De Caerstecker (da série Agentes da S.H.I.E.L.D.) é o inocente e Tibbet é o alívio cômico.
Sem muitos sobressaltos, o roteiro de Billy Ray (Capitão Phillips) e Mark L. Smith (O Regresso) também procura se cercar de clichês para construir a trama, utilizando elementos consagrados por obras anteriores, como o vilarejo francês que sofre na mão de oficiais da SS e o obrigatório acolhimento dos soldados norte-americanos por uma família nativa. O trabalho de Ray e Smith é tão meticuloso que não falta sequer o militar nazista que chantageia a moça da família.
Assim, ao reciclar estereótipos e convenções, Operação Overlord ganha ares de comida requentada, oferecendo ao público uma experiência longe da originalidade. Isso não chega a ser um problema fatal graças à direção do estreante Julius Avery, que ao menos tenta entregar um produto bem acabado. E consegue, com destaque para a tomada que abre a projeção e o excelente plano-sequência que ocorre perto do epílogo.
Além disso, Operação Overlord compensa a fraqueza do script com elaboradas sequências de ação, como o já citado plano-sequência, que parece ter tido influência de seu produtor J.J. Abrams (quem assistiu a Super 8 notará as semelhanças). Por outro lado, mesmo acertando na ação, o forte da produção é a sua capacidade de gerar tensão, construindo uma atmosfera pesada e focada em manter o mistério.
O problema é que o tal mistério deixou de ser novidade já nos trailers de divulgação do filme, não sobrando muita coisa para ser apreciada, além de alguns bons sustos uma ou outra perseguição (mais uma vez carregada de tensão). Outro problema da produção é jamais conferir peso às suas ameaças: os oficiais alemães soam como stormtroopers, sendo abatidos com facilidade e o vilão principal, interpretado pelo astro dinamarquês Pilou Asbaek (Ghost in the Shell – A Vigilante do Amanhã), até possui um visual caprichado pela ótima maquiagem e pelo sorriso diabólico de Asbaek, mas limita-se a uma subtrama vingativa e faz o roteiro ganhar ares episódicos (note como tudo é corrido e resolvido de forma simples).
Já a reconstrução de época é irrepreensível, com a direção de arte fazendo um bom trabalho com a ambientação, que se esbalda com os carros da época e a casa onde acontece boa parte do segundo ato. A trilha sonora não foge muito ao padrão, com Jed Kurzel se redimindo de seu barulhento e irregular trabalho no péssimo Assassin’s Creed.
Adicionando elementos fantásticos a um típico filme de guerra, a produção ganha ares frescos, fazendo do horror da guerra a curiosa combinação de realismo e fantasia. E a abundante violência gráfica, de fato, justifica a classificação indicativa, trazendo um verdadeiro banho de sangue, com membros amputados, cabeças esmagadas e toda a sorte de carnificina. Um prato cheio para os entusiastas do gore.
Por isso, Operação Overlord jamais deixa de soar como uma produção escapista, divertindo pontualmente com a mistura de gêneros, mas sem cativar aqueles que esperam mais do que um produto reciclado. Satisfatório, mas longe de ser marcante.
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