Embora seja muito mais popular nos Estados Unidos, seu país de origem, o Grinch ganhou notoriedade mundial ao ser interpretado por Jim Carrey no filme homônimo de 2000 dirigido por Ron Howard. GrinchRemetendo a um passado distante onde deu as caras numa série de animações, a criatura verde e peluda que odeia o Natal está de volta num projeto dos mesmos produtores de Meu Malvado Favorito e dos famigerados Minions.

Baseado na criação clássica do autor infantil Dr. Seuss, o Grinch é um ser que costuma destoar dos outros habitantes de sua cidade, “Quemlândia”. Os “Quem” são figuras aprazíveis e sempre dispostos a um gesto gentil, sendo também grandes admiradores do Natal. Ou seja, exatamente o oposto do Grinch, que é ranzinza e vive isolado do resto da cidade justamente por detestar o clima natalino, convivendo somente com seu fiel cãozinho Max.

Tão tradicional quanto saborear aquele peru suculento no Natal é acompanhar os esforços dessa criatura verde em estragar o Natal dos Quem. Obviamente, é exatamente isso que acontece nesse longa-metragem dirigido por Yarrow Cheney e Scott Mosier. Como em toda produção da Illumination (divisão de animações da Universal), o primeiro elemento que salta aos olhos em O Grinch é a simplicidade de sua animação.

A Quemlândia, por exemplo, é um amontoado de casas que mais parecem biscoitos caseiros (como aquele personagem de Shrek) cobertos de glacê, entrecortados por estradas quase invisíveis e que servem apenas para serem percorridas em alta velocidade pelos mais variados objetos, já que não há carros no local. Já os Quem contam com os mesmos traços imortalizados nos livros de Dr. Seuss ao mesmo tempo em que incorporam a textura padronizada do estúdio, aliando narizes diminutos a corpos aparentemente borrachudos e com membros finos.

Essa padronização enfraquece o projeto justamente por castrar a personalidade artística de seu material de origem, limitando-se a lampejos mais alegres ao espalhar luzes coloridas pelos vilarejos e investir numa paleta de tons pasteis que rivalizam com as cores vibrantes de Grinch e Max, por exemplo, numa concepção visual, ao menos, intrigante.

Dublado por Benedict Cumberbatch (o Doutor Estranho) na versão original, o Grinch ganha em Lázaro Ramos sua voz oficial em terras tupiniquins e mesmo que não alcance o tom grave de Cumberbatch ou exiba a sagacidade de Guilherme Briggs (intérprete de Jim Carrey no filme de 2000), não chega a decepcionar, mostrando-se uma escolha muito mais sensata do que a atual moda de escalar não-atores em animações infantis (como YouTubers, apresentadores e outras celebridades). 

O personagem, desta vez, ganha uma previsível e extremamente desnecessária história de origem para justificar sua aversão ao Natal num esforço redundante de um roteiro que já gasta preciosos minutos alternando as ‘maldades’ da criatura com ‘inconscientes’ gestos bondosos. Aliás, aqui as tais ‘maldades’ podem ser encaradas como meras pirraças, jamais excedendo-se, principalmente graças à supracitada iniciativa de equilibrar o tom ao mostrá-lo em momentos carinhosos com Max ou libertando uma rena.

Max, por sua vez, é o grande destaque do filme, comprovando a habilidade do estúdio em conceber animais carismáticos: fiel e extremamente paciente, o cachorrinho jamais abandona seu amigo, nem mesmo ao ser visivelmente explorado, despertando suspiros sempre que demonstra felicidade com afagos e outros mimos.

Esses momentos mais ‘fofos’, em contrapartida, funcionam apenas com Max, já que ao ser empregado pela menina Cindy Lou, revela-se um recurso forçado e gradualmente irritante, visto que ela não chega a ser muito mais do que o estereótipo de criança perfeita construída sob medida para influenciar o comportamento dos espectadores mirins.

Felizmente, na maior parte do tempo, O Grinch é eficiente ao fazer o básico do que se espera de uma animação deste tipo, abusando do clima aventuresco ao mesmo tempo em que não se envergonha de jogar na cara do espectador (literalmente) as possibilidades do 3D. Não se engane, pois uma simples ida ao mercado pode representar uma verdadeira epopéia na Quemlândia, terminando invariavelmente com alguma coisa sendo atirada na tela.

Finalizando a projeção com a obrigatória ‘mensagem’, O Grinch é a típica história de um vilão que no fundo tem bom coração. O tipo de malvado que adoramos odiar, e nos divertimos mais ainda em vê-lo fracassar. Pode até não vir a ser seu favorito, mas você dificilmente sairá do cinema rabugento como ele.

Obs: O filme é antecedido por um curta-metragem estrelado pelos Minions.

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Crítico de Cinema e Carioca. Apaixonado pela Sétima Arte, mas também aprecia uma boa música, faz maratona de séries, devora livros, e acompanha futebol. Meryl Streep e Arroz são paixões à parte...

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