Soundtrack – Filme nacional com cara de produção hollywoodiana. Selton Mello está excelente.
SINOPSE
Um fotógrafo brasileiro, Cris (Selton Mello), vai para uma estação polar na Antártida para por em prática seu projeto artístico: fazer autorretratos com uma trilha sonora para cada selfie. É recebido por 4 cientistas que a princípio não entendem seu trabalho. A narrativa vai explorar a relação de amizade entre o artista e os cientistas, confinamento humano e valorizar arte e ciência.
DESTAQUES
O filme é falado em inglês com algumas poucas falas em português.
A direção é da 300 ml, a dupla dos diretores Bernardo Dutra e Manitou Felipe, que se notabilizou pelo curta “Tarantino’s Mind” (2006), de apenas 15 minutos, que vale muita a pena ver. Protagonizam esse Curta Selton Mello e Seu Jorge.
A história se passa no Polo Sul, Antártida (ou Antártica), mas é rodado no Rio de Janeiro. Para fazer a neve foram utilizados papel picado, isopor e neve. Para “entrar no clima” a refrigeração do estúdio gelou o set de filmagem. A ambientação do filme é perfeita, você jura que foi filmado no Polo Sul.
Selton Mello (“Auto da Compadecida”, 2000; “Meu Nome Não é Johnny”, 2008; e “O Palhaço”, 2011), é o protagonista que contracena com o cientista Ralph Ineson, de “A Bruxa” (2016), saga “Harry Potter” (3 filmes) e “Game of Thrones” (2a Temporada). O outro brasileiro no elenco é Seu Jorge, ator, compositor e cantor, atuou em “Cidade de Deus” (2002) e no “Tarantino’s Mind”.
O filme gerou uma exposição de fotografias no MIS (Museu de Imagem e do Som), em cartaz em São Paulo, do fotógrafo Oskar Metsavaht, fundador da Osklen. Esse fotógrafo, real, foi quem tirou as fotos do Cris. Ele “dublou” o personagem Cris. Muito interessante esse fato: o filme gerou uma exposição de fotografias que tem fones de ouvido para você captar a música que o Cris ouvia quando a foto foi tirada.
A produção do filme é de Júlio Uchoa, Selton Mello, Seu Jorge e da dupla 300ml.
Estive na coletiva de impressa que lançou o filme em São Paulo, que contou com a presença do produtor Júlio Uchoa e de Selton Mello.
ENREDO
O fotógrafo brasileiro vai para uma estação polar na Antártida a bordo de navio da Marinha Brasileira, depois de quatro anos inscrito, para desenvolver um projeto artístico. Na estação estão outros 4 cientistas: Mark (Ralph Ineson), Cao (Seu Jorge), Huang (Thomas Chaanhing) e Rafnar (Lukas Loughran).
É recebido de uma forma fria, pelos cientistas que estão focados nos seus trabalhos. Quando perguntam qual é o plano de trabalho do fotografo Cris, ele responde que vai tirar selfies ouvindo uma trilha sonora específica para que todos escutem o que ele ouvia quando a foto foi tirada e captem o que ele sentia. Eles desdenham da sua empreitada.
Caberá a Mark cuidar de Cris, orientá-lo sobre sua permanência de 12 dias na estação polar para desenvolver seu projeto fotográfico. Estar numa estação polar tem muitos perigos envolvidos como poderemos comprovar. A convivência dos dois revelará descobertas mútuas. Teremos embates sobre o trabalho científico de Mark e o trabalho artístico de Cris.
Num primeiro momento cada um não valorizará o trabalho do outro. Com a convivência e a oportunidade de se exporem essa distância vai sendo encurtada. Cris tem uma mentalidade mais imediatista de sucesso profissional. Ele acredita que um bom trabalho pode trazer a fama rapidamente. Mark, por outro lado, desenvolve um trabalho com balões meteorológicos que terminará em 90 anos e provavelmente não terá reconhecimento em vida.
Uma cena muito bonita e que aproxima muito a dupla principal do filme é quando Cris e Mark estão contemplando a montanhas geladas e Cris põe um fone de ouvido em Mark e toca 3 músicas diferentes e pede a ele para contemplar a paisagem sentido cada uma das músicas. Mark acaba por entender mais da arte.
Seu Jorge é o biólogo brasileiro Cao e é protagonista de boas cenas e até mesmo dos momentos mais divertidos do filme. Seguramente é o papel imediatamente mais importante depois da dupla.
Compondo o elenco está o chinês ranzinza que não dá a mínima para o Cris, mas isso depois será revelado. O dinamarquês Rafnar vem apenas completar a trama sem muita expressão.
A história tem uma sequência linear e os fatos vão se sucedendo para narrar o projeto de Cris e suas experiências com o Continente Gelado. Muitas situações inusitadas acorrerão e contaremos com um certo suspense, algumas cenas engraçadas e tudo acontecerá praticamente na estação polar ou a alguns metros dela. No acontecimento final do filme caberá uma reflexão: foi um acidente ou ele deliberadamente se buscava aquele resultado?
O filme vai explorar a amizade desses 5 homens, confinados nos seus propósitos e nas descobertas que farão. Cris entenderá mais sobre a ciência e os 4 entenderão mais sobre a arte.
CRÍTICA
Selton Mello tem uma atuação louvável. Está muito bem no papel. O fato da língua do filme ser o inglês, como já se sabe, é um dificultador para o ator que fica mais preso ao roteiro, mas ele tira de letra. O cara é muito bom mesmo. Ele é o responsável pelo bom resultado do filme. A atuação e Ralph Ineson completa muito bem a química proposta entre artista e cientista. Aqui vale ressaltar que os dois se conheceram no set de filmagem para realizar o filme. A situação na estação polar pode muito bem ser comparada ao primeiro contato que tiveram. Se descobriram e fizeram uma boa dupla.
A narrativa proposta pela 300 ml, que dirige seu primeiro longa metragem está muito competente. A proposta do roteiro, também de responsabilidade da dupla 300 ml foi ousada: uma história sem brasilidade, com 4 outros personagens de outras nacionalidades, tendo como cenário um lugar inóspito, fazendo reflexões sobre amizade, arte e ciência. Conteúdo é o que não faltou para a 300 ml. Essa dupla promete.
Soundtrack pode e deve ser traduzido como trilha sonora. Nesse filme com esse título, acreditei que essa pegada musical tivesse uma presença mais expressiva. A trilha sonora do filme apenas contracenou com a narrativa principal. Houve cenas em que Cris ouvia seu repertório musical e não ouvíamos o que ele ouvia. Acredito que existiu um propósito por traz disso. Talvez fosse essa intenção, deixar um certo mistério no que captava o fotógrafo quando executava seu trabalho.
A fotografia do filme, de Felipe Reinheimer, soube compor muito bem as imagens e dar o clima gélido do filme e nos proporcionou alguns landscapes.
CONCLUSÃO
Gostei muito do filme. Adorei a atuação do Selton Mello. Gostei muito da proposta globalizada do enredo do filme, discutindo questões importantes e mais superiores que aquelas presentes nos filmes nacionais da atualidade. O filme te proporcionará boas reflexões e compartilhamento de descobertas. Como afirmou Selton Mello na coletiva de imprensa: “… o filme possibilita muitas possibilidades de sentido”. Em cartaz nos cinemas.
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